Sou um composto de hominídeo, com forte tendência animalesca. Sou intrinsecamente conectado as mais diversas realidades e virtualidades. Mas até o atual que me define, ou o que chamamos de meu eu real, se vê rodeado por outras virtualidades cada vez mais fortes, complexas, próximas e diversas. Sinto-me como uma partícula criadora de efêmeros, uma percepção evocada de lembranças.
Sem dizer das partes de meu corpo que me constitui e que eu constituo como pertencentes a mim. Minhas próteses criaram-me, sou eu um misto. Seriam as próteses algo que compomos e que por uso e por desuso nos compõem? Ou seria eu desde o sempre protótipo daquilo que hoje em mim se anexa, pluga e incorpora? Mas a questão agora que me passa a cabeça não é mais “que sujeito seja eu?”, mas “quero, ainda, ser sujeito?”, “quem precisa desse sujeito eu?” e o mais intrigante “quem vem depois dessa minha configuração nada convencional de sujeito?” Enfim, as possibilidades cibernéticas de vida são muitas vezes mais vívidas que muitas supostas vidas. O que classificaria o vivo? Ou, melhor, o que o torna diferente do não vivo? E qual efetivamente é a importância disso? Talvez nenhuma. Talvez toda. Sim, uma construção em ruínas! Essa seria uma boa definição do que sou, e talvez, uma vez que certeza alguma eu tenha diante disso, não comporte mais em mim a solidez de um castelo.
texto de Yasmin Cassetari
interpretação: Jacques Soares
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