Maculelê é um tipo de dança folclórica da Bahia, com matriz nas culturas afro-brasileira e indígena onde em sua origem era ligado às fazendas de produção da cana-de-açúcar.
Em sua origem, o maculelê foi uma arte marcial armada, que nos dias de hoje se preserva na simulação de uma luta tribal usando como arma dois bastões, chamados de grimas (esgrimas), com os quais os a música em línguas africanas, indígenas e portuguesa. Em um grau maior de dificuldade e ousadia, pode-se dançar com facões em lugar de bastões, o que causa um bonito efeito visual pelas faíscas que saem a cada golpe. Esta dança baiana mais tarde se mesclou a outras manifestações culturais brasileiras, como a capoeira e o frevo.
Popó do Maculelê foi um dos responsáveis pela sua divulgação, formando um grupo com seus filhos, netos e outros habitantes da Rua da Linha, em Santo Amaro (Bahia), chamado Conjunto de Maculelê de Santo Amaro da Purificação. Existem também outras comunidades, como a comunidade quilombola Monte Alegre, no sul do município de Cachoeiro de Itapemirim (Espírito Santo), onde o maculelê ainda é passado de geração à geração, com o objetivo de não perder a cultura tradicional.
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https://www.youtube.com/watch?v=IgSaBMfVoU8
As danças de combate, Ladja (praticada na Ilha da Martinica, território francês no Caribe) e Laamb (do Senegal), são os pontos de partida para a leitura das obras apresentadas na exposição Corpos em luta. Nós, brasileiros, temos a Capoeira, que possui pontos em comum com a Ladja e a Laamb, estas 3 manifestações socioculturais são refúgio, memória e resistência de um corpo ancestral, coagido a percorrer o caminho da diáspora africana.
As imagens que compõem a exposição são registros de quem viu, vivenciou e pesquisou as práticas de combate na Martinica e Senegal. As obras aqui apresentadas não deixam de ter um perfil documentário, no entanto, Edu Monteiro vai além ao desfocar as linhas que definem os limites entre ser fotógrafo e artista, enfatizando características que sempre integraram seus meios de expressão artística.
A linguagem contemporânea, na multiplicidade de caminhos a que percorre, é a forma pela qual Edu Monteiro cria instalações, objetos escultóricos e fotografias que se sustentam apoiadas em ricos indícios simbólicos. A tensão gera o equilíbrio ancorado na pele. O carvão é uma referência à metáfora usada na Martinica para a pele negra, como algo que já queimou, sofreu, resistiu e ainda resiste. A pele esticada no espaço ocupa o vazio, preenche, rompe a parede da galeria, ao passo que o invisível ganha corpo. A todo tempo, Edu Monteiro nos insere como cúmplices de um ritual.
E por falar em ritual, alguns elementos que constituem a exposição são signos existentes durante a formação de rodas de danças de combate. Ao empilhar duas pedras, os praticantes da Lajda acreditam em uma conexão com o mundo espiritual, o que poderia consagrar o vencedor do combate. Já na luta senegalesa, o chifre de carneiro compõe a mandinga, conhecido como um elemento de poder e força vital. O tambor, tradicionalmente produzido com couro de carneiro, em ambas as manifestações é o instrumento responsável por gerar a energia e o ritmo para corpos em luta, de modo que seu som é considerado um elo entre o mundo real e o sobrenatural.
Edu Monteiro confere visibilidade às práticas de combate relacionadas à diáspora africana, sem fazer uso de uma narrativa panfletária, as danças de combate são a base do processo criativo das obras apresentadas. Trata-se de memórias, gestos e ritmos tradicionais transformados em objetos de arte através de experimentações e subjetividades. O que reverbera uma produção artística consolidada na contemporaneidade, com identidade e repertório bem definidos.
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https://www.youtube.com/watch?v=RH7cgZcqS3c