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O INIMIGO DE HADDAD MORA LÁ NA CASA DELE. A ESQUERDA AMERICANA começou a se distanciar do estalinismo muito cedo. A esquerda europeia demorou mais, mas em 1956, com a invasão da Hungria pelos tanques soviéticos, uma parte dos marxistas e comunistas europeus deixaram de lado o modelo de Moscou. Depois, em 1968, com a invasão dos tanques soviético sobre Praga, a debandada foi quase geral. Nos anos setenta para os anos oitenta, quase todos os partidos comunistas da Europa, exceto, creio, o de Portugal, se transformaram em agremiações de prática social-democrata. Era o fenômeno do Eurocomunismo. Isso teve impacto na Esquerda no Brasil, tanto no PT quanto no PMDB e nos partidos comunistas, PCB e PCdoB. Quando Lula foi candidato em 1989, os comunistas que ainda adotavam alguma simpatia para com a URSS eram pouquíssimos. O próprio presidente do PT, logo depois, foi um social democrata convicto, o professor Francisco Weffort. Dito isso, vamos agora à reportagem do Estadão, hoje (05/12/2022), que inventou a ideia maluca de que Fernando Haddad, no início dos anos noventa, defendeu uma dissertação de mestrado que era super novidadeira, pois criticava a URSS. E para completar a mentira, a reportagem diz que a dissertação não foi considerada pela esquerda por conta dessa crítica à URSS. A esquerda seria estalinista, e Haddad, o herói da novidade, já não era, e teria escandalizado seus coleguinhas. Se a reportagem do Estadão foi feita para vender a ideia para o mercado de que Haddad não é comunista, então a ideia é tola, vazia, inócua. Os homens do mercado tem uma sociologia tão ridícula na cabeça que eles não fazem a menor ideia do que é comunismo ou social democracia etc. Eles confundem tudo. Então, a reportagem, por essa via, não ajuda. Agora, o problema é que ela é fantasiosa, errada, ensina coisas erradas para a juventude e para o leitor do jornal. E Haddad, ao invés de não deixar isso passar, acabou endossando a coisa do modo que ela foi publicada. E parece que ele realmente está se achando um intelectual, alguém que por méritos intelectuais rompeu com dogmas! Ele está começando achar que tem valor intelectual separado do valor como militante político. Ele é quem é por conta do PT, e não por conta de suas teses. Ele começa a acreditar que a dissertação foi pedida pela Cia das Letras, para publicar, por méritos intelectuais do texto. Não! A editora é comercial, quer apenas vender, e livro de ministro vende! A dissertação dele não tem nenhuma novidade. Não estou dizendo que é ruim, estou dizendo que não faz parte de uma quebra de paradigma, como o Estadão quis fazer parecer. Se Haddad não consegue decidir se ele quer se político ou intelectual, pode incorrer no erro de Ciro Gomes. Haddad é um político do Lula, e isso já é de muito valor. Se quiser ser outra coisa, precisa parar a carreira de político e estudar. Ser só leitor não faz de ninguém um intelectual. O livro último do Haddad é fraco, sem capricho, sem fio condutor. Haddad não estuda. Ele lê, mas não estuda. Pois sua vida é de político. Ele precisa decidir o que quer ser. Caso contrário, não será nenhuma coisa nem outra, e acabará se atrapalhando no ministério da Fazenda. Torço pelo Haddad, pois torço pelo Lula e por nós. Mas, eu seria muito tolo, como professor, se não percebesse isso tudo, de como ele está sendo envolvido pela indecisão de vocação. E seria bem desonesto, se não avisasse. Paulo Ghiraldelli ... https://www.youtube.com/watch?v=4RnVqVceUlI