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A barra é acessível a embarcações cujo calado não exceda a 20 pés e, logo à entrada, avista-se de um e outro lado as altas colinas que a margeiam e embelezam, sobressaindo a em que está o Convento de Nossa Senhora da Penha, uma das maravilhas do Brasil; à direita enfrenta-se com o Leopardo e à esquerda o Pão de Açúcar, que se elevam sobre as mais colinas, oferecendo ensejo para admirar-se a beleza e arte com que a prodiga natureza ornamentou a entrada da Capital, uma das melhores da nossa Costa; o aspecto é agradável.
Depois da barra segue-se o ancoradouro que se estende além de cinco milhas, com fundo nunca inferior a seis metros. Pelo norte, sul e oeste é todo o terreno montanhoso e irregular, existindo parte cultivada e o mais em mata.
Da barra a Inhanguetá contam-se oito ilhas que se denominam: Ilha do Boi, Ilha do Neves, Ilha do Bode, Ilha dos Papagaios, Ilha das Cobras, Ilha das Pombas, Ilha do Príncipe e Ilha de São Salvador, umas em cultura e outras abandonadas.
Rios e Lagos - O território é cortado ao sul pelo rio Jucu que desagua na parte deste nome para o oceano, sendo sua nascente na Serra do Engano, prosseguindo em diversas direções, recebendo em seu trajeto pequenos rios com várias denominações, ora navegáveis ora em cachoeiras até precipitar-se na Pedra da Mulata - onde se despenha de elevada altura para mansamente deslizar-se recebendo em seu dorso afluência dos rios Vianna e Araçatiba que lhe aumenta o volume e o torna majestoso e soberbo em certas épocas do ano quando transborda e inunda as campinas que tanto aformoseiam quando em seu ruvel natural, para mais abaixo desviar uma boa parte de suas águas que, tomando a direção do canal aberto pelos extintos Jesuítas, apelida-se de - Cassaroca - Marinho e Paul e vem despejar em frente ao Porto Velho pouco acima da Cidade, para unir-se às águas do mar que formam o ancoradouro da Capital.
Ao norte é atravessado pelo decantado - Santa Maria navegável na distância de trinta e uma milhas até a florescente Vila de Santa Leopoldina - que, a ser exatas as predições que se dizem de José de Anchieta - terá ali fundamentada uma Capital que guarda a um Templo cujas portas terão fechaduras de ouro e chaves de prata; este rio transporta-se como o primeiro dos outros incultos que dividem esta Província com a de Minas Gerais onde a existência de outros rios tributários do grande Rio Doce - dividem suas águas e uma boa parte delas desviando-se aqui em cachoeiras acolá em abismos, com o concurso dos rios - Ribeirão do Ouro, Rio Bonito, Ribeirão da Prata, Ribeirão dos Pardos, Ribeirão da Farinha e Ribeirão do Norte forma a grande Cachoeira da Fumaça que bifurcando-se na ponte do Funil por onde segue passando pela - Maia - recebe o batismo de - Santa Maria- ao qual se vem juntar os rios Curubixá, Caioüba, Mangarahy, Arouba, Boapuba e Tangui para incorporados derramar-se no tradicional Lameirão - onde as águas se separam, parte para - Passagem, ou Goiabeiras - braço de mar que circula a ilha onde esta assente a Cidade, e parte para vir ter à baía da Capital, passando por duas gargantas ou aberturas aos lados da ilha São Salvador - e assim aumentar o reflexo das águas que descem em busca da barra.
Salubridade - O Município é geralmente saudável.
Minerais - Existem diversas minas auríferas, de prata, ferro e enxofre e outras de barro de Olaria para fabricação de telha e tijolo, assim como abundância de penhascos onde se faz extração de pedra para edificação.
Madeiras - Há muitas espécies de madeiras de construção e marcenaria, sendo as mais comuns Jacarandá, Peroba, Óleo, Sassafrás, Pau-Brasil, Vinhático etc.
História - A primitiva ilha de Duarte de Lemos, que mais tarde se denominou - Vila da Vitória.
Distância - Esta Capital está situada entre o Rio de Janeiro e Bahia, distando 264 milhas marítimas do primeiro e 465 da segunda; contém várias estradas de difícil transporte para o interior. Seria de grande proveito e de muita prosperidade para a Província a realização de uma via férrea que há muito se projecta e que nos pusesse em comunicação direta com a Província de Minas Gerais; com certeza, de tal empreendimento, depende unicamente o próspero e brilhante futuro desta Província que contém em si todos os elementos naturais para sua prosperidade, por isso que, dispondo de uberdade prodigiosa e de todos os elementos para seu engrandecimento, só aguarda disposição de ânimo e braço protetor que a tire do estado de inação em que jaz atrofiada.
Município da Cidade da Vitória, Capital da Província do Espírito Santo, em 8 de Junho de 1886.
Francisco da Rocha Tagarro.
Está conforme.
O Secretário da Câmara
José Antônio Vieira de Faria
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